Dizem que primeiro amor a gente nunca esquece, acho que é verdade. É bem
radical, ou ele acontece tipo conto de fadas, termina com carinho e
vocês viram uma linda lembrança, ou ele acontece violento, sem
reciprocidade e deixando marcas pra sempre.
E, grande parte da pessoa que você vai se tornar, está diretamente
ligada à forma como esse primeiro amor chega e vai embora. Pois é, o meu
passou longe de ser qualquer coisa relacionada com paz. Nossos tempos
nunca estiveram alinhados. Eu só queria conhecer a vida ao lado dele,
como uma criança, cheia de medos, amor e esperando ele me dar a mão, pra
eu atravessar a rua. Ele já era íntimo da vida, queria segurar o mundo
e, por isso, largou minha mão. Foi embora, mas nunca me libertou.
Sempre me quis na gaiola, enquanto ele voava sem destino por aí.
Voltava, me alimentava e retornava pra sua vida, que um dia havia sido
nossa, feliz, e era por isso que eu continuava ali, trancada. Até que
numa dessas vindas, ele me deu água, comida e mentira, aí foi demais. Me
roubou tantas coisas, matou minha menina. Hoje eu também voo, porque
gaiola ficou pequeno demais pra mim. Pra mim, minhas mágoas, minha
repulsa, nosso fim. Agora eu atravesso as ruas sozinhas, porque a vida
tá tão mais convidativa e eu já não preciso de guia turístico, banco
minha felicidade sozinha. Meu primeiro amor, minha primeira decepção,
meu último adeus.
Marcella Fernanda
Ênfase no "sempre", não no "para".
Há 12 anos