16 de março de 2010

Trecho de Brida

Apesar de ter apenas 21 anos, já havia se interessado por muitas coisas, e desistido com a mesma rapidez com que se apaixonava por elas. Não tinha medo das dificuldades – o que a assustava era a obrigação de ter que escolher um caminho.
Escolher um caminho significava abandonar outros. Tinha uma vida inteira para viver, e sempre pensava que talvez se arrependesse, no futuro, das coisas que queria fazer agora.
“Tenho medo de me comprometer”, pensou consigo mesma. Queria percorrer todos os caminhos possíveis, e ia acabar não percorrendo nenhum.
Nem mesmo na coisa mais importante de sua vida, o amor, havia conseguido ir até o fim; depois da primeira decepção, nunca mais entregou-se por completo. Temia o sofrimento, a perda, a inevitável separação. Claro, estas coisas estavam sempre presentes na estrada do amor – e a única maneira de evitá-las era renunciando a percorrer a estrada. Para não sofrer, era preciso também não amar.
Como se, para não enxergar as coisas ruins da vida, terminasse precisando furar os olhos.
“É muito complicado viver.”

(...)

Voltou para a cama e o sono veio rápido. Antes, porém, lembrou de mais uma história com seu pai. Era um domingo e estavam almoçando na casa da sua avó, com a família toda reunida. Ela já devia ter uns catorze anos, e estava reclamando que não conseguia fazer determinado trabalho para a escola, porque tudo que começava a fazer terminava dando completamente errado.
“Talvez estes erros estejam lhe ensinando algo”, disse seu pai. Mas Brida insistia que não; que ela havia entrado por um caminho errado, e agora não havia mais jeito.
O pai pegou-a pela mão e foram até a sala onde a avó costumava ver televisão. Ali havia um grande relógio de pé, antigo, que estava parado há muitos anos, por falta de peças.
Não existe nada de completamente errado no mundo, minha filha”, disse o seu pai, olhando o relógio.
“Mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes por dia.”

Brida - Paulo Coelho


Não sou muito fan de Paulo Coelho. Mas eu gosto desse livro e especialmente desse trecho. Tirando a idade, na verdade a diferença de idade de 3 anos, eu sou exatamente do tipo da Brida no início. Quero ir por todos os caminhos possíveis, tenho uma grande paixão por tal coisa, sempre começo, e tirando por poucas coisas que terminei, as outras, a paixão esfria e eu as largo no meio do caminho. Não que eu me orgulho do que eu vou escrever, mas muitas vezes isso serviu também para pessoas. Serve também do trecho que ela fala do Amor.
Eu sei que eu sou assim e eu sei porque hoje em dia eu sou assim. Eu não posso por a culpa toda nele, porque eu acredito no 50/50%, então, 50% por eu ser assim hoje, seria tambem minha culpa.
Talvez eu tenha mesmo medo de me comprometer, de gostar, de lutar por algo. E eu sei porque eu tenho medo de lutar por algo. E eu não sei se eu consigo vencer esse medo. Porque até nas coisas mais simples, eu consigo me machucar.
Mas talvez, como disse o pai da Brida, os meus erros, o meu medo, os meus atos estejam me ensinando algo. Pelo menos para o futuro. Pra um futuro, quem sabe?
Eu não sei. Não consigo ver se aprendi algo até agora. Então, de novo, só resta esperar e ver no futuro, se esses erros me levaram a ser alguém melhor, possa ser melhor do que eu sou.

-

Dois meses sem você ontem. E eu ainda custo acreditar e a parar de chorar quando lembro que você não está mais aqui. Eu te amo meu vô.
E nos meus dias mais tristes, a chuva vem e me faz companhia, ela não me deixa sozinha nesses dias. Nunca deixou.


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